O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi pode se tornar Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O primeiro passo para o reconhecimento internacional concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) foi dado nesta quinta-feira (5) com a entrega do dossiê de candidatura do bem cultural ao Ministério das Relações Exteriores (MRE).
A cerimônia de entrega teve a presença da secretária executiva do Ministério da Cultura, Mariana Ribas; a presidente do Iphan, Kátia Bogea; o diretor do Instituto de Patrimônio Imaterial, Hermano Queiroz; e o superintendente do Iphan no Maranhão, Mauricio Itapary.
Bumba-meu-boi pode se tornar Patrimônio Imaterial da Humanidade já em 2019 (Foto: Divulgação/IPHAN)
O dossiê de candidatura foi entregue à diretora do Departamento Cultural do Itamaraty, ministra Paula Alves de Souza. A previsão é de que em 2019 o Comitê do Patrimônio Imaterial decida sobre a inserção do bem brasileiro na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Com uma decisão positiva, o Bumba-meu-boi vai se unir a Arte Kusiwa - Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (2003), ao Samba de Roda no Recôncavo Baiano (2005), o Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife (2012), o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2013) e a Roda de Capoeira (2014). Todos são bens brasileiros reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Dossiê de candidatura foi entregue à diretora do Departamento Cultural do Itamaraty, ministra Paula Alves de Souza. (Foto: Divulgação/IPHAN)
Caminho ao título internacional
Considerado Patrimônio Cultural do Brasil desde 2011 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o caminho do bumba-meu-boi percorrido para se chegar a candidatura de Patrimônio Imaterial da Humanidade passou por várias etapas até chegar ao estágio atual.
Segundo o Iphan, tudo começa quando existe a solicitação da comunidade ao instituto para que o bem seja inscrito na lista representativa da Unesco a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Esse é o primeiro passo para que o Patrimônio Cultural do Brasil obtenha o reconhecimento internacional.
Bumba-meu-boi concorre a título de Patrimônio Imaterial da Humanidade (Foto: Divulgaçao/IPHAN)
A partir de então, o pedido é apresentado pelo Iphan para avaliação ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e, tendo a anuência, é dado início a elaboração de um levantamento sobre os aspectos relevantes do bem cultural, legitimando sua importância para a humanidade.
Ao ser reunido em um Dossiê, os dados são entregues pelo MRE à Unesco, como aconteceu nesta terça (5). A partir de agora o Bumba-meu-boi passa a integrar um conjunto de bens imateriais que serão objeto de análise do organismo internacional sobre a aceitação ou rejeição da proposta levada à apreciação final durante uma reunião do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda.
O Complexo Cultural do Bumba meu boi está presente em todo o Estado do Maranhão, dividido em cinco principais estilos conhecidos como sotaques: Matraca, Orquestra, Zabumba, Baixada e Costa-de-mão. Contabiliza-se mais de 400 grupos, localizados nas zonas urbana e rural de São Luís e em, pelo menos, 75 municípios do estado.
Repórter Mirante - Programa especial sobre as toadas do Bumba-meu-boi do Maranhão
Segundo o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Hermano Queiroz, participar da manifestação extrapola a ideia de ser parte de um grupo. Para além da unidade mais estreitamente ligada às celebrações do Boi, os praticantes se identificam como uma grande comunidade boieira, comungando a mesma visão de mundo que envolve religiosidade católica, cultos de matriz africana de diversas tradições, crenças e ritos.
“Para os participantes, integrar o Bumba meu boi é motivo de orgulho e devoção, de modo que há quem traduza seu compromisso com o Boi comparando-o a uma religião”.
Para o IPHAN, ainda que existam formas de expressão similares ao Bumba-meu-boi em outros estados brasileiros, no Maranhão o elemento se diferencia por se constituir num complexo cultural, que compreende uma variedade de estilos, multiplicidade de grupos e, principalmente, porque estabelece uma relação intrínseca entre a fé, a festa e a arte, fundamentada na devoção aos santos católicos juninos, nas crenças em divindades de cultos de matriz africana e na cosmogonia e lendas da região.
O Dossiê de candidatura destaca que a manifestação cultural, portadora de uma carga simbólica que reproduz o ciclo vital (nascimento, vida e morte), é uma metáfora da própria existência humana.
Repórter Mirante - Programa especial sobre o Bumba-meu-boi do Mraanhão